A Hemodiálise e Seus Aspectos Psicológicos

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A insuficiência renal crônica

A insuficiência renal crônica (IRC) ocorre quando os rins perdem a sua função. Os rins são os órgãos responsáveis pelo equilíbrio homeostático do organismo; além desta função, controlam a pressão arterial e têm a capacidade de sintetizar e secretar hormônios. Atuam também no metabolismo e excreção de várias substancias que vêm do próprio organismo ou de vias externas como medicamentos e alimentos.



As causas da insuficiência renal crônica podem ser as mais variadas: inflamação dos rins, infecção urinária crônica, hipertensão arterial, diabetes, tumores renais, doenças congênitas. Porém, em cerca de 5% a 20% dos casos não é possível estabelecer sua causa.

 
Hemodiálise



A hemodiálise é uma das modalidades para o tratamento da insuficiência renal crônica, em que se produz uma circulação extracorpórea do sangue através de uma máquina. A máquina irá filtrar o sangue, limpá-lo e devolvê-lo ao organismo novamente através de uma fístula (ligação de uma artéria com uma veia, feita a partir de uma pequena cirurgia no braço).

O paciente comparece a um hospital ou clínica especializada e realiza três sessões de hemodiálise por semana; em média, cada sessão demora de três a quatro horas.


Aspectos psicológicos

Alguns pacientes conseguem adaptar-se de forma satisfatória ao tratamento, no entanto, outros possuem muitas dificuldades, “boicotando” o tratamento de diversas formas: não seguindo a dieta corretamente, não tomando os remédios, chegando atrasado ou mesmo faltando às sessões de hemodiálise.


Esses pacientes tem sua vida completamente alterada devido às sérias limitações físicas, sociais e psicológicas que o tratamento lhe impõe. Muitos não podem continuar a trabalhar, perdem o status social de provedor da família, que acaba por afetar sua autoestima e sua identidade.


A restrição alimentar também é difícil, pois a ingestão de liquido é limitada e controlada. Alguns alimentos não podem mais ser consumidos; outros só podem caso sejam cozidos, no caso, algumas verduras e frutas. A dieta hipossódica também deve ser seguida, pois o sal retém líquido no organismo. O ato de comer geralmente está associado à sentimentos de prazer, de segurança e à experiências emocionais positivas, como também a sentimentos de ansiedade. No senso comum, muitas vezes atribui-se ênfase especial no comer como um dos prazeres que acompanham o papel de doente.


Algumas pessoas encontram na alimentação uma forma de manter-se estável emocionalmente, buscam certo equilíbrio frente às sobrecargas de emoções, tais como o medo, apreensão, raiva, desespero e culpa. No entanto, o paciente em tratamento hemodialítico, está impedido de alimentar-se como gostaria e alguns pacientes encontram dificuldade para aplacar a ansiedade que o programa provoca. Desta forma, o desvio da dieta constitui um dos maiores problemas desses pacientes.


A rotina das sessões de hemodiálise é permeada por diversos acontecimentos. Qualquer problema no sangue ou na maquina acionam os sistemas de alarmes, apontando uma emergência, que são sentidas pelos pacientes de forma ameaçadora. Isto porque, qualquer um pode ser a próxima emergência, podendo leva-los a testemunhar a morte de um colega e assim, conduzi-los a um questionamento da própria morte.


Desta forma, a relação com a máquina de hemodiálise torna-se complicada, pois ao mesmo tempo em que esta salva sua vida, também impõe limitações e o priva de sua independência, podendo causar muita angustia e ansiedade. Esses pacientes deparam-se com muitas perdas, entre elas, as atividades escolares, domésticas e profissionais, sendo que esta ultima provoca insegurança financeiro. O vigor físico também é afetado e, em consequência ficam reduzidos a resistência ao lazer, as atividades sexuais e a liberdade.



A forma como cada pessoa vai enfrentar todo esse stress emocional vai depender do tipo de estrutura de personalidade e as defesas psicológicas frente às situações de ameaça ou perigo. Assim, alguns pacientes podem apresentar dificuldades de adaptação ao programa de hemodiálise, devido a distúrbios de comportamentos anteriores à doença, tais como estados de ansiedade aguda, agressividade exacerbada, depressão, etc., que associadas às perdas que o tratamento impõe, podem ter consequências muito graves.


O acompanhamento psicológico é fundamental para que esses pacientes possam expressar seus sentimentos, principalmente os impulsos agressivos, para que sejam melhor canalizados e compreendidos e evitar que sejam direcionados para si próprios.


A insuficiência renal crônica trás uma mudança brusca na vida, significa confrontar a vida e a morte, conviver com limitações, com um tratamento difícil, desgastante e doloroso, porém, indispensável para a sua sobrevivência.


Referências bibliográficas:

Brogna, Magdail.; Estudo sobre a ambivalência em pacientes sob tratamento hemodialítico, Divisão de Psicologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1998.

Draibe, S.; Cendoroglo, M.; Canziani, M.E.F.; Carvalho, A.B.; Ajzen, H.; Os processos dialíticos. Ciência Hoje, v. 18, n.105, p.42-47, 1994.

Nogueira, P.C.K.; Carvalhaes, J.T.A.; Insuficiência renal crônica. Ciência hoje, v.18, n.105, p.38-41, 1994.

Moore, G.L.; A Psychiatric Study of 26 Patientes Undergoing Hemodialysis and Transplant for their Terminal Renal Disease. University of Minnesota, Rochester, 1971.